sábado, março 11, 2006

Auroras?

O SpaceWeather.com prevê a possibilidade de auroras boreais para esta noite, mas infelizmente apenas para países muito mais a norte. Trata-se de um dos fenómenos mais espectaculares da natureza e eu invejo os habitantes de países como a Finlândia que o veêm tantas vezes que já nem ligam. Eu já tinha aqui falado anteriormente das "luzes que dançam", que são devidas a variações bruscas na velocidade do vento solar. Com essas variações quebra-se o equilíbrio entre a magnetosfera, devida ao campo magnético da Terra, e o campo magnético carregado pelo vento solar. Como eu referi há uns dias atrás, nós encontramo-nos num período de mínimo de actividade magnética solar, e o Sol não apresenta sequer manchas de relevo. Como explicar então que este Sol suposto inactivo seja capaz de produzir auroras? [... ler mais]

Para compreender melhor o que se passa, vejamos quais os dados com que no SpaceWeather.com se basearam para a previsão de auroras. O indício foi uma alteração na velocidade do vento solar medida a cerca de 1 milhão e meio de km da Terra pelos instrumentos a bordo da sonda espacial ACE.



Como pode ver no gráfico acima, a velocidade do vento solar passou do valor típico à volta de 350 km por segundo, que apresentava até por volta do início do dia 10 de Março, e já vai neste momento com cerca de 550 km por segundo. O que aconteceu foi que a Terra passou subitamente daquilo a que se chama vento solar lento para o vento solar rápido. De onde veio este súbito vento solar rápido? Para saber isso temos que voltar atrás no tempo. A 550 km por segundo, este vento levou cerca de 3 dias e meio do Sol até à Terra, pelo que teremos que procurar algo próximo do centro do Sol (visto da Terra) por volta do meio do meio-dia de 6 de Março. Retrocedamos então um dia de cada vez, para ilustrar um outro fenómeno importante do Sol, a sua rotação. As imagens abaixo mostram o Sol tal como é visto com o telescópio de raios-X na sonda espacial GOES-12. Em raios-X vemos emissão proveniente de gás eletrificado (plasma) a temperaturas muito elevadas (da ordem do milhão de graus Celsius).


As regiões brilhantes são regiões onde o plasma da atmosfera do Sol, a coroa solar, é mantido em grandes arcos magnéticos, a temperaturas muito elevadas. As regiões mais escuras são zonas onde esses arcos não existem, e são chamadas buracos coronais. Podemos ver um buraco coronal junto ao pólo Sul do Sol, e um outro, que na imagem da esquerda, tirada no dia 10 de Março, se encontra junto ao bordo direito do Sol. As imagens do meio, tirada no dia anterior, e a da direita tirada no dia 8 de Março mostram que esse buraco coronal (e também as regiões brilhantes) se deslocam. De facto, o Sol roda cerca de 13 graus por dia no sentido da esquerda para a direita (visto da Terra).


Se seguirmos esta região escura, recuando no tempo até ao dia 6 de Março, vemos que nessa altura ela se encontrava muito próximo do centro do Sol, e que é ela a fonte do vento solar rápido observado na Terra. Estes buracos coronais são a principal causa de perturbações na magnetosfera Terrestre durante os períodos de mínimo solar. Claro que a coisa é um pouco mais complicada do que aquilo de que falei aqui, há outros factores a ter em conta, como, por exemplo, a orientação do campo mangnético transportado pelo vento solar. Infelizmente este tipo de perturbações só produz auroras muito perto dos pólos, e não são suficientes para causar uma aurora que se estenda suficientemente a Sul para a podermos ver em Portugal ou a Norte para aqueles que habitam no Brasil.

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