domingo, agosto 20, 2006

Querem despromover Plutão.

Esta imagem é retirada do mesmo artigo de que falei na contribuição sobre a reconstrução de Plutão usando dados de trânsitos de Caronte. Trata-se de uma imagem tirada com o Hubble e como podemos ver a resolução é bastante mais pobre do que a que se consegue usando os trânsitos. Volto aqui a falar de Plutão porque um conjunto de astrónomos reagiu à proposta da IAU para a redefinição de planeta, de que falei aqui, com uma contraproposta algo reacionária. Chamo-lhe reacionária porque visa claramente manter o status quo. Aliás vai mesmo além, voltando ao que tinhamos 77 anos atrás. [... ler mais]

Não é claro o que IAU pretende fazer com esta "proposta", ou se vai seguer dignar-se a considerá-la. Há vários pontos nesta proposta mas é no primeiro que se concentram as diferenças de relevo. Eis aqui numa tradução do original que encontrei na SPACE.com:

(1) Um planeta é corpo celeste se (a) é de longe o maior objecto na sua população local [1], (b) tem massa suficiente para que a gravidade intrínseca supere as forças de corpo rígido e assuma uma forma de equilíbrio hidrostático (quase redonda), (c) não produza energia por qualquer mecanismo de fusão nuclear.

O aspecto da "fusão nuclear" estava coberto na outra proposta com a cláusula do "não seja uma estrela". Com efeito, qualquer corpo que tenha massa suficiente para queimar deutério é por definição uma estrela, pelo menos uma anã castanha. Há no entanto uma diferença bastante grande que tem a ver com com o "ser de longe o maior" e o conceito de população local:
[1] A população local de objectos que cruza ou se aproxima da órbita do corpo em consideração.

Isto elimina imediatamente Ceres, que tem apenas cerca de um terço da massa da cintura de asteróides, e segundo os autores da proposta também Plutão. Mas aí não comprendo o conceito de "população local". Estão a referir-se a toda a cintura de Kuiper? Eu pessoalmente acho que esta proposta é um passo atrás. Conceitos como "ser de longe o maior" e a "população local" são algo vagos para os objectos trans-neptunianos. Foram claramente postos lá para excluir Ceres e Plutão. Mais valia dizer que por definição os planetas são apenas oito.

Já agora e para não dar a impressão que os astrónomos estão em geral contra a proposta dos "doze ou mais planetas", a Divisão de Ciências Planetárias (DPS) da Sociedade Astronómica Americana apoia de forma entusiástica a proposta a ser votada (pelo menos os doze membros da comissão). O texto integral pode ser consultado no laço acima, e eu não resisto a traduzir a última parte:
A Divisão de Ciências Planetárias (DPS) da Sociedade Astronómica Americana é a maior sociedade de cientistas planetários profissionais do mundo. O comité da DPS, eleitos pelos nossos membros, suporta vigorosamente a resolução da IAU. Foi proposta após dois anos de revisão cuidada por um painel de cientistas planetários, e seguida por um grupo vastamente representativo de historiadores, escritores e cientistas. A nova definição é clara e compacta, está firmemente baseada nas propriedades físicas dos corpos celeses, e é aplicável aos planetas encontrados em torno de outras estrelas. Ela abre a possibilidade para que muitos novos planetas tipo Plutão sejam descobertos no nosso sistema solar.

A definição proposta vai ser levada à Assembleia Geral da IAU para votação em 24 de Agosto de 2006. Como representantes de uma comunidade de cientistas planetários, recomendamos que a resolução seja aprovada.

Dr. Richard G. French

Presidente, comité DPS

Já só faltam 4 dias para sabermos se temos os tais 12 planetas (que poderão passar mesmo de 50 no curto prazo).

Adenda: afinal os anti-plutão levaram a deles avante na assembleia da IAU e Plutão já não um planeta.

3 comentários:

Maria Guimarães disse...

quando eu era criança me ensinaram que as estrelas cintilavam no céu; os planetas tinham brilho fixo. era meio difícil de enxergar, mas era simples. nunca imaginei que não soubéssemos o que um planeta é!

João Carlos disse...

Eu acredito que houve uma certa precipitação em considerar Plutão como um Planeta. Agora, paciência!...

Eu só quero ver a reação dos Astrólogos!...

Caio de Gaia disse...

A astrologia não tem problemas em lidar com avanços na Astronomia. Eles não vão ter problemas em "incorporar" a nova situação.

A prova de que a Astrologia é um disparate pegado vem da psicologia e não da Astronomia. Os astrólogos afirmam que dada a hora, data e local de nascimento de uma pessoa conseguem prever o perfil psicológico de um indivíduo. No único estudo sério da coisa, com astrólogos e psicólogos e um computador a atribuir perfis ao acaso, os astrólogos não fizeram melhor que o computador. É claro que depois disso nunca mais aceitaram fazer testes semelhantes.