quinta-feira, agosto 17, 2006

Imagem astronómica do dia: Ceres, o quinto vagabundo do sistema solar?

A imagem mostra Ceres, visto pelo Hubble entre Dezembro de 2003 e Janeiro de 2004, um pequeno objecto esférico, que orbita entre Marte e Júpiter. Descoberto no dia 1 de Janeiro de 1801 por Giuseppe Piazzi, Ceres foi classificado na altura como um planeta. Com um diâmetro de 950 km, não é tão pequeno como isso. No entanto, com a posterior descoberta de toda uma cintura de asteróides em redor da sua órbita, perdeu esse estatuto e passou a ser simplesmente o maior e mais importante dos asteróides. Durante cerca de 150 anos permaneceu com essa designação, no entanto as coisas poderão mudar em breve. De gigante entre os asteróides poderá passar a anão entre os planetas.[... ler mais]

De acordo com uma nova definição a ser votada pela União Astronómica Internacional (IAU de acordo com a sigla em inglês), Ceres poderá recuperar o seu antigo estatuto e passar a ser o quinto planeta do sistema solar a contar do Sol. Mas as coisas não ficam por aí. O grande objecto para lá de Neptuno, descoberto há relativamente pouco tempo, 2003 UB313 mais conhecido por Xena, passaria a ser o décimo segundo planeta. Plutão continuaria a ser um planeta, mas com a companhia da sua lua Caronte. Seriam os décimo e décimo primeiro planetas a contar do Sol. Confusos? Bem vejamos a proposta da IAU em detalhe, nos seus vários pontos:

1) Um planeta é um corpo celeste que (a) tem massa suficiente para que a sua gravidade intrínseca possa exceder as forças de rigidez internas pelo que assume um equilíbrio hidrostático (forma quase circular, e (b) orbita em torno de uma estrela, e não é nem uma estrela nem um satélite de um planeta.

Este é um critério que abre a porta à inclusão de Ceres, embora coloque de fora a maioria dos asteróides e muitos satélites planetários. Mas não todos:
Para dois ou mais objectos parte de um sistema múltiplo, o primário é designado um planeta se satisfaz de forma independente as definições acima. Um objecto secundário que satisfaça essas condições é também designado um planeta se o baricentro do sistema reside fora do primário. Objectos secundários que não satisfaçam estes critérios são satélites.

Ora Caronte satisfaz as condições anteriores e tem uma massa elevada quando comparada com Plutão, pelo que o centro de massa fica para lá de Plutão. Sendo assim Caronte é também um planeta. No sistema Terra-Lua, o centro de massa fica ligeiramente abaixo da superfície da Terra, mas como a Lua se afasta da Terra cerca de 4cm por ano dentro alguns milhares de milhões de anos mesmo a Lua obedecerá ao critério para ser um planeta. Mas há mais pontos na proposta. Em particular contempla uma categoria de objectos históricos:
(2) Distinguimos entre os oito planetas clássicos, descobertos antes de 1900, que se movem em órbitas quase circulares próximo do plano da eclíptica, e outros objectos planetários em órbita em torno do Sol. Todos estes objectos são menores que Mercúrio. Reconhecemos que Ceres é um planeta pela definição acima. Por razões históricas poder-se-á optar por distinguir Ceres dos planetas clássicos designando-o por "planeta anão".

É claro que todas as recentes descobertas abrem a possibilidade de um número enorme de planetas para lá da órbita de Plutão. Esses objectos são contemplados no ponto seguinte.
(3) Reconhecemos que Plutão é um planeta pela definição acima, tal como um ou mais dos grandes objectos trans-neptunianos descobertos recentemente. Contrastando com os planetas clássicos, estes objecto têm tipicamente órbitas com grandes excentricidades e períodos orbitais que excedem 200 anos. Designamos esta categoria de objectos planetários, dos quais Plutão é o protótipo, como uma nova classe a que chamamos plutões.

E como última definição:
(4) Todos os objectos não planetários que orbitam o Sol serão referidos colectivamente como "Pequenos Corpos do Sistema Solar".

Tem havido toda uma série de comentários exacerbados sobre esta proposta, muitos deles negativos. Reparem que é sobretudo uma questão semântica, só faz de facto diferença na questão de Ceres que muda a ordem dos planetas exteriores. Confesso que me agrada, mesmo na questão de Caronte. É que Plutão-Caronte e mesmo Terra-Lua são casos especiais de verdadeiros planetas binários. Além disso a Xena (ou qualquer que seja o nome que lhe venha a ser atribuído) merece a mesma distinção que Plutão. Vai ser preciso esperar algum tempo até limarem as arestas, mas podemos antever num futuro próximo dezenas de planetas no sistema solar. Para já existem mais 12 objectos candidatos a estatuto planetário: 2003 EL61, 2005 FY9, Sedna, Orcus, Quaoar, 2002 TX300, 2002 AW197, Varuna, Ixion, Vesta, Palas, Hígia.

Três destes (Vesta, Palas e Hígia) são da cintura de asteróides, o que poderá modificar ainda mais a ordem dos planetas exteriores. Não deixa de ser impressionante pensar que se a proposta para a definição for aprovada é bem provável que o número de planetas duplique nos meses seguintes.

Eu acho que é uma boa proposta. Curiosamente, nenhum dos astrónomos que conheço parece feliz com a coisa. Pelo contrário, basta ver as contribuições sobre o tema na Estrela Cansada ou no Bad Astronomy Blog, por exemplo. Embora os astrónomos sejam em geral pessoas um pouco estranhas, algo rezingões e botas de elástico, a reacção não se deve apenas a mau feitio e até é de certa forma compreensível. Como eu referi atrás, é uma questão essencialmente semântica, o interesse científico de todos estes objectos permanece o mesmo. Embora este tipo de separação dos objectos possa parecer pouco importante aos olhos dos cientistas, este é um tema que interessa a muitas pessoas que se dedicam a outro tipo de ocupações mas que gostam de Astronomia. O grande público compreende que estes objectos são de facto diferentes e a definição é importante para comunicar isso. A mudança de estatuto dá um certo "peso afectivo" aos objectos. Eu até prevejo que a reacção junto dos interessados pela astronomia, em particular dos mais jovens, vai ser de grande entusiasmo.

Adenda: afinal tudo se passou ao contrário na assembleia da IAU e Plutão já não um planeta, e logo Ceres também não.

Ficha técnica
O servidor da IAU parece estar com problemas. O comunicado de imprensa da proposta costumava estar aqui.
Uma boa fonte de informação (em inglês) é esta página da Planetary Society.
Imagens de Ceres obtidas desta página no Hubblesite da NASA.
Para informação detalhada sobre Ceres (em inglês) consultar esta página na Planetary Society.

1 comentário:

Anónimo disse...

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