sexta-feira, agosto 18, 2006

Detalhes na superfície de Plutão

A questão acerca da redefinição do que é um planeta é uma boa oportunidade para "desenterrar" esta imagem de Plutão, que resulta de um estudo de Eliot F. Young e colegas publicado no Astronomical Journal (ref1) ainda no século passado (em 1999). A imagem, que mostra uma resolução impressionante, é na verdade uma reconstrução feita a partir de trânsitos de Caronte vistos da Terra. span class="arquivo">[... ler mais]

Numa tradução livre de parte da introdução do artigo:

Pouco tempo após a descoberta de Caronte em 1978, verificou-se que o plano da órbita de Caronte era quase paralelo à linha de visão entre a Terra e Plutão. Vários observadores mantiveram uma vigilância quanto a eclipses, pois esperava-se que Caronte passasse à frente e atrás de Plutão, dado o eixo do plano da órbita ser perpendicular à linha de visão para a Terra. O primeiro trânsito reconhecido de Plutão por Caronte foi observado em 17 de Fevereiro de 1985 por R. P. B. Como Plutão e Caronte estão presos em órbitas mutuamente síncronas com um período de 6.4 dias, houve a oportunidade de observar um trânsito (e/ou eclipse) de Plutão por Caronte ou uma ocultação de Caronte por Plutão a cada 3.2 dias.

Isto durante um intervalo de tempo de 6 anos, com cada trânsito a durar umas poucas horas. Durante esses trânsitos a luminosidade do sistema podia diminuir até cerca de 40%. Devido ao facto das órbitas serem síncronas, apenas uma face Plutão era transitada por Caronte, e apenas uma face de Caronte era ocultada por Plutão. Houve ainda outro facto importante:
No curso do movimento de Plutão em redor do Sol, o plano da órbita de Caronte parece deslocar-se, e assim a sombra de Caronte cobre primeiro o hemisfério norte de Plutão (em 1985 e 1986) e mais tarde o seu hemisfério sul (1989 e 1990).

Esta variação da região de Plutão que era ocultada tornou possível construir um mapa da variação da luminosidade sobre todo um hemisfério de Plutão. Como se mostra no esquema ao lado, em que se representam os tamanhos relativos dos dois corpos vistos da Terra, a área que Caronte cobre é no entanto bastante grande, e os autores tveram que utilizar um método iterativo para construirem o mapa acima. O método funciona bastante bem, a resolução é de cerca de 235 km em longitude e 314 km em latitude. O melhor que o Hubble consegue anda à volta de 400-500 km. É claro que o Hubble tem uma vantagem: consegue ver toda a superfície de Plutão, e não apenas o hemisfério em face de Caronte. Com esta resolução é possível verificar que a superfície de Plutão presenta algumas estruturas, com algumas áreas bastante escuras e outras um pouco mais claras. Há mesmo um ponto muito brilhante, visível na imagem no início da contribuição, um pouco acima da porção direita da faixa escura. Os autores especulam que o ponto brilhante, com cerca de 250 km de diâmetro, poderá indicar a presença de uma cratera ou de um géiser.

Voltando à redefinição de planeta, Mike Brown, o descobridor da "Xena" tem algumas considerações interessantes sobre o tema (em inglês). No fundo tudo se resume a que agora temos 4 famílias de planetas: os gigantes gasosos (4), os planetas terrestres (4), os planetas anões da cintura de asteróides (1 a 4) e os plutões (3 a "muitos"). Se a proposta for aprovada as coisas não irão mudar mudar assim tanto, é óbvio que as crianças na escola continuarão a aprender o nome dos planetas clássicos, e dirão simplesmente que depois há muitos plutões. O número dos "muitos" que se conhecem neste momento surpreendeu-me um pouco. Brown que trabalha activamente na descoberta destes objectos avança com alguns valores. O número de objectos com um diâmetro superior a 400 km (potencialmente redondos) conhecidos na cintura de Kuiper ultrapassa já os 40. Brown estima que existirão cerca de 200. Mas o número destes plutões é enganador, caberiam todos dentro da Terra e ainda sobraria muito espaço.

Adenda: afinal os anti-plutão levaram a deles avante na assembleia da IAU e Plutão já não um planeta.

Referências
(ref1) Young, Eliot F.; Galdamez, Karla; Buie, Marc W.; Binzel, Richard P.; Tholen, David J. (1999). Mapping the Variegated Surface of Pluto. The Astronomical Journal, Volume 117, Issue 2, pp. 1063-1076. Laço DOI.

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