quinta-feira, setembro 14, 2006

Xena dá lugar à Discórdia

Por decisão da União Astronómica Internacional o 2003 UB313 ganhou finalmente um nome, Eride (ou Éris como vi nalgumas páginas na internet), a deusa grega da discórdia. Na verdade não sei qual a grafia mais adequada em português, eu sempre conheci Eride e não fazia ideia que Éris (que conhecia do francês) também era usado. É provável que dado o nome inglês ser Eris seja essa a denominação a ganhar. Mas para já prefiro a que sempre utilizei. Não se trata de um nome simpático. [... ler mais]

Eride é a deusa por trás do julgamento de Páris que acabaria por precipitar a guerra de Tróia. Despeitada por não ter sido convidada para um casamento, Eride lançou uma maçã de ouro, o famoso "pomo da discórdia", sobre a mesa do banquete com a inscrição "para a mais bela". As deusas gregas não podiam resistir a algo tão fútil e o desafortunado príncipe troiano Páris teve então que escolher entre três deusas: Hera, Atena e Afrodite. Todas tentaram suborná-lo: Hera prometeu-lhe reinar sobre o mundo, Atena sabedoria e valor como guerreiro, e Afrodite a paixão da mulher mais bela do mundo, Helena de Tróia. O resto da história é bem conhecida. Páris, que tinha também o seu quê de fútil, escolheu Helena, que era casada com o rei de Esparta. Seguiu-se o rapto e como represália os aqueus das belas grevas destruiram a cidade dos troianos domadores de cavalos. Eis uma pintura ateniense de Eride dum vaso de cerca de 575-525 AC.

Depois de procurar um pouco lá encontrei uma descrição dessa personagem na Ilíada, algures no canto IV. Numa tradução livre da versão que tenho em casa (em francês):

... e por toda a parte iam o temor e o terror da furiosa e insaciável Eride, irmã e companheira de Áries assassino de homens, a princípio débil, e que, caminhando com os pés sobre a terra, se eleva prontamente a ponto de tocar o céu com a sua cabeça. E ela percorria a multidão, despertando o ódio, e multiplicando os gemidos dos homens.

Trata-se de uma personagem algo sinistra, que semeia o caos e desordem por onde passa, e se regozija com o sofrimento e a guerra. Já os satélites de Plutão baptizados de Nix (que é a mãe de Eride) e Hidra evocam divindades sombrias e aterradoras. Parece ser uma moda para todos os corpos para lá de Neptuno. O nome Eride é no entanto de certa forma adequado, pois foi este corpo celeste que lançou a discórdia entre os astrónomos e levou Plutão a perder o estatuto de planeta. A orbitar Eride está uma lua com o nome da sua filha, Disnomia, que significa ilegalidade, o que realça a injustiça cometida pela assembleia geral da IAU. Eu optei por não me referir nem a Plutão nem a Eride por planeta-anão, mas até que a IAU volte atrás com a sua decisão disparatada essa é a categoria destes objectos.

O comunicado da IAU (pdf em inglês) pode ser encontrado aqui.

Ficha técnica
Imagem da deusa Eride tirada da Wikimedia Commons, desta página.

2 comentários:

João Carlos disse...

Na Comunidade "Astronomia!" do Orkut estão a divulgar que o nome oficial de "Xena" seria Dysnomia.

Pode ser o caso de uma mesma divindade com um nome romano e outro grego.

O amigo me faria o favor de esclarecer a dúvida?

Caio de Gaia disse...

Errado, Disnomia é o nome da lua, a que antes chamavam Gabrielle e significa ilegalidade.

Xena é mesmo Eride (Eris em inglês). O nome latino de Eride é Discordia!

Portanto

Xena -> Eride ou Éris
Gabrielle -> Disnomia