sábado, julho 22, 2006

Em Xanadu há rios e fontes e muitos prados

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Esta imagem de Titã, obtida no dia 30 de Abril de 2006 pelos instrumentos a bordo da sonda espacial Cassini, mostra uma faixa com cerca de 4,500 km de extensão, de uma da áreas mais brilhantes de Titã, que os membros da equipa chamaram Xanadu. Muitas das facetas geológicas que encontramos na Terra encontram-se também em Xanadu: leitos, provavelmente de rios, cadeias de montanhas, mares de dunas. Trata-se de um local fantástico mas a razão do nome escapava-me. Confesso que Xanadu não me trazia nada de especial à memória. Só se fez luz no meu espírito quando, associado às notícias, li um excerto do poema Kubla Kan do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834).[... ler mais]

In Xanadu did Kubla Khan
A stately pleasure-dome decree:
Where Alph, the sacred river, ran
Through caverns measureless to man
Down to a sunless sea.
Não me atrevi o traduzir o poema, pois não creio que fosse capaz de captar a beleza das palavras. Depois de ler isto percebi que o poeta está a falar da capital de verão de Cublai Cã, que é descrita no livro "As viagens de Marco Pólo":
[...] e encontra-se uma cidade que se chama Giandu, cidade mandada construir pelo Grã-Cã que hoje reina, Cublai Cã. E mandou construir nesta cidade um palácio de mármore e de outras ricas pedras; as salas e os quartos são todos dourados; é extraordinariamente belo. E à volta deste palácio há um muro que tem um comprimento de quinze milhas e dentro dele há rios e fontes e muitos prados.
Por acaso verifiquei e em italiano utiliza-se a mesma designação e grafia que em português. É impressionante como os ingleses conseguiram chegar a um som tão diferente. Xanadu em Titã evoca estranhamente a descrição de Giandu nas "Viagens". As imagens abaixo mostram as margens de Xanadu em mais detalhe.



Há um grande contraste entre a aparência de Xanadu e o resto da superfície do planeta. Por alguma razão Xanadu não possui a camada de "sujidade" orgânica que cobre o resto do planeta, é um continente de cara lavada, limpo e brilhante. Xanadu tem grandes cadeias de montanhas que fazem as vezes do muro de Giandu.


Entre estes muros de montanhas correm rios, quem sabe um deles tenha já o nome de Alph.


Talvez haja mesmo lagos:


Não há um verdadeiro palácio mas uma possível cratera de impacto ou vulcânica podem perfeitamente fazer as vezes de um:


Titã é um mundo magnífico, que evoca estranhamente as paisagens terrestres. É claro que dadas as temperaturas frígidas da atmosfera de Titã o líquido que corre naqueles rios e enche aqueles lagos não pode ser água. É talvez metano. Quem sabe talvez aqueles rios corram através de cavernas para mares sem Sol iguais aos de que fala Coleridge.

Marco Pólo faz uma referência a astrónomos em Giandu que confirma as minhas suspeitas de que por trás da capa de inofensivos cientistas se escondem malévolas criaturas. Esta passagem das "Viagens" é demasiado boa para não incluir aqui:
E vou dizer ainda uma maravilha de que me tinha esquecido: que quando o Grã-Cã está neste palácio e vem mau tempo, os astrónomos e encantadores fazem que o mau tempo não caia em cima destes palácios. E estes homens sábios são chamados Tebot, e sabem mais da arte do diabo que toda a outra gente e fazem acreditar às pessoas que isto acontece por santidade.

Adenda. A Planetary Society colocou na internet imagens de Xanadu com muito mais alta resolução do que aquelas que eu mostrei aqui ontem. Basta carregar nos apontadores abaixo para serem transportados para as imagens de alta resolução, com cerca de 1 Mbyte cada. Nestas imagens, cada pixel corresponde a cerca de 350 metros.

Esquerda (3500x1516) ,Centro/Esquerda (3500x961) ,Centro/direita (3500x699),Direita (3500x1093)

Ficha técnica
O filme (6.7Mbytes) de onde foram retiradas as imagens da Xanadu/Giandu titaniana pode ser obtido aqui a partir das páginas do comunicado de imprensa.
As imagens e a contribuição original de Emily Lakdawalla, bem como uma discussão sobre algumas das características das imagens (em inglês), podem ser encontradas no blog da Planetary Society, aqui.

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