sexta-feira, abril 07, 2006

O anel azul de Úrano

Em 22 de Dezembro de 2005 Mark R. Showalter e Jack J. Lissauer anunciaram numa circular da IAU a descoberta de dois novos anéis em Úrano, com base nas observações do Telescópio Espacial Hubble. Nessa mesma circular, Imke de Pater, Heidi B. Hammel, e Seran G. Gibbard publicaram observações desses anéis obtidas em comprimentos de onda no infravermelho pelo telescópio Keck no Havai. Curiosamente, apenas conseguiram ver o mais interior dos dois novos anéis, apesar de nos dados do Hubble o anel mais afastado ser duas vezes mais brilhante. Isto apontava para diferenças ao nível da composição. [... ler mais]

O artigo formal com as observações do Keck e do Hubble acaba de ser publicado na Science (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Comparámos observações no infra-vermelho próximo dos recentemente descobertos anéis exteriores de Úrano com resultados do Telescópio Espacial Hubble. Verificamos que o anel interior, R/2003 U 2, é avermelhado, enquanto o anel exterior, R/2003 U 1, é muito azul. O azul é uma cor pouco usual para anéis; o enigmático anel E de Saturno é o único outro exemplo conhecido. Por analogia com o anel E, o R/2003 U 1 é provavelmente produzido por impactos com a lua Mab, que orbita aparentemente numa posição onde perturbações não gravitacionais favorecem a sobrevivência e o espalhar de partículas de pó com dimensões abaixo do mícron. O anel R/2003 U 2 assemelha-se mais ao anel G de Saturno, que é vermelho, uma cor típica para anéis formados por poeiras.

A imagem ao lado mostra uma comparação entre os sistemas de anéis de Saturno (em cima) e de Úrano (baixo), em que o diâmetro de cada um dos planetas foi ajustado de forma a serem iguais. O anel E de Saturno foi evocado aqui aquando de uma contribuição sobre os géiseres de Encélado. O anel E fica mesmo na órbita de Encélado e crê-se que essa Lua de Saturno fornece inclusive o material que forma esses anéis. A lua Mab de Úrano é muito mais pequena que Encélado, com pouco mais de 20 km de diâmetro e é muitíssimo pouco provável que seja activa. A explicação que os cientistas favorecem é o modelo originalmente proposto para o anel E de Saturno, antes da descoberta dos géisers próximo do pólo sul de Encélado. Colisões de pequenos metoróides levam a que material gelado seja lançado da superfície da Lua. As partículas maiores permanecem em órbita da Lua e eventualmente são atraídas para ela, enquanto forças bastante subtis actuam de forma inversa sobre as partículas menores. Essas forças vão desde o efeito da pressão da luz solar a variações no campo gravítico do planeta gigante em torno do qual a lua roda. O efeito global é a dispersão de partículas com dimensões infímas que difundem e reflectem preferencialmente a luz azul.

Referências
(ref1) Imke de Pater, Heidi B. Hammel, Seran G. Gibbard, Mark R. Showalter (2006). New Dust Belts of Uranus: One Ring, Two Ring, Red Ring, Blue Ring. Science, Vol. 312. no. 5770, pp. 92-94. Laço DOI.

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