sábado, março 04, 2006

A Grande Mancha Vermelha e a Júnior

O tempo em Portugal não tem estado convidativo para olhar pelos telescópios, mas talvez os leitores brasileiros que continuam a vir aqui em busca de Tucídides queiram experimentar observar os céus, em particular as últimas alterações que aconteceram no maior planeta do sistema solar. A imagem acima, obtida por Christopher Go, nas Filipinas, com um telescópio relativamente pequeno (11 polegadas), mostra que a Grande Mancha Vermelha de Júpiter tem agora uma irmã mais nova. [... ler mais]

A vermelha Júnior, como está indicada na fotografia, mas cujo nome oficial é oval-BA, não apareceu do nada, já existia desde 2000, mas com uma outra cor. Até recentemente esta mancha era apenas mais uma entre inúmeras manchas brancas arredondadas na atmosfera de Júpiter, só que substancialmente maior. O facto digno de nota, e por isso foi notícia, foi ter mudado desde Novembro último do seu tom esbranquiçado para um tom com laivos de castanho, e finalmente vermelho. O mais interessante é a forma como esta nova marca na superfície de Júpiter se formou. Para ver isso temos temos que recuar no tempo até aos anos 1990.

A imagem ao lado mostra o aspecto de Júpiter, visto pelo Telescópio Espacial Hubble em Dezembro de 1995. Para além da Grande ManchaVermelha, pode ver-se um conjunto de manchas menores de cor branca, em particular três que estão muito próximas de Mancha Vermelha. Quer a Gande Mancha Vermelha, quer as manchas menores são grandes turbilhões na atmosfera de Júpiter. Para ter uma ideia da escala, o diâmetro da Grande Mancha é quase o dobro do diâmetro da Terra. O primeiro a observá-la terá sido Cassini, ou então Hooke, em 1665. Curiosamente, e após mais de 300 anos, não se sabe exactamente a razão da cor avermelhada. Ora qual a relação das manchas brancas, que se veêm de vez em quando, com a Vermelha Júnior? Avancemos então uns anos até 1997. Observações nesta altura mostravam três manchas que na imagem abaixo estão referenciadas como FA, DE e BC. Estas marcas na atmosfera de Júpiter exisitiam há cerca de 60 anos, e sempre que se aproximavam umas das outras de alguma forma "repeliam-se".


Ora em 1998 houve um período em que a Terra e Júpiter estavam em lados opostos do Sol e as manchas não puderam ser seguidas, e aí algo aconteceu. Quando os cientistas voltaram a olhar para elas, a DE tinha desaparecido e a BC estava algo diferente. A imagem abaixo mostra as observações em 16 de Julho de 1998. A mancha FA continua por lá, mas em vez da DE e BC tem-se agora uma manchinha escura indicada por o1 e uma mancha bastante grande indicada como BE, provavelmente resultado da fusão das duas manchas DE e BC.


Avançado um pouco no tempo, até 14 de Outubro de 1999, pode ver-se que as manchas FA e BE se aproximaram bastante


Finalmente em 2000, as duas manchas juntaram-se para formar a mancha indicada como BA na imagem abaixo. Desta vez os cientistas conseguiram seguir o fenómeno da fusão em detalhe.


Desde que se completou a fusão das três manchas que os cientistas têm seguido atentamente o comportamento da mancha resultante, procurando observar alterações no tamanho e cor. A mudança para vermelho era esperada, resta saber quanto tempo durará a Júnior. Será que voltará a mudar de cor? Será que irá enfraquecer e desaparecer? Eis mais uma razão para aqueles com um telescópio em casa observaram o planeta Júpiter.

O facto de termos visto a formação de uma mancha tão rapidamente não deixa de ter implicações quanto à história da Grande Mancha Vermelha. De facto, embora se afirme geralmente que a mancha existe há mais de 300 anos, não se tem a certeza que a mancha de Cassini fosse a mesma mancha que se vê hoje em dia, pois esta só começou a ser seguida com atenção após 1879, e há um grande intervalo sem observações até 1830. Embora pareça estável, a cor e tamanho da mancha têm variado sensivelmente: a Grande Mancha tem neste momento apenas metade do tamanho que tinha há cerca de 100 anos atrás. Quanto à cor, a mancha vermelha muda entre um tom vermelho tijolo e um tom quase branco de forma algo irregular. Não é por isso completamente seguro que estejamos a ver a mesma mancha que no século XVII.

Nota: descobri esta notícia através da science@nasa.

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