quinta-feira, fevereiro 09, 2006

NGC 1309

A chamada Equipa do Legado do Hubble, lança todos os meses uma imagem dos arquivos do Hubble que, para lá da beleza inata destas coisas, esteja ligada a uma descoberta de grande impacto científico. A maioria destas imagens aparecem na Astronomy Picture of the Day. A de hoje mostra a galáxia NGC 1309. Trata-se de uma galáxia próxima, a "apenas" 100 milhões de anos-luz. Trata-se também de uma galáxia relativamente pequena, com cerca de 30,000 anos luz de diâmetro, cerca de um terço da dimensão da Galáxia da Via Láctea, a galáxia a que o Sol pertence. A imagem é de uma grande beleza, mas a NGC 1309 tem uma importância muito para lá dos aspectos estéticos, esta galáxia foi palco de um acontecimento que nos permitiu determinar as dimensões do Universo. [... ler mais]

A galáxia NGC 1309 foi o berço da supernova SN 2002fk cuja luz chegou à Terra em Setembro de 2002. Esta supernova foi de uma categoria a que os astrónomos chamam Tipo Ia, que ocorre quando num sistema binário se tem uma anã branca a roubar massa da estrela companheira. Quando a anã branca atinge um certo limiar de massa e não consegue suportar o colapso gravitacional a estrela "explode", tornando-se o objecto mais brilhante na galáxia durante várias semanas,

Ora as supernovas são muito brilhantes e podem ser vistas a grandes distâncias. O mais interessante é que dado que obedecem todas aproximadamente ao mesmo limiar de massa, emitem todas mais ou menos a mesma quantidade de luz. Logo a quantidade da luz de uma supernova de tipo Ia que chega à Terra deveria permitir em princípio determinar com grande eaxctidão a distância a que essa supernova se encontra. A questão é como calibrar esses objectos. Para isso é preciso que uma supernova de tipo I ocorra num local cuja distância seja bem conhecida. Ora foi aí que entrou a NGC 1309 e o Hubble.

A NGC 1309 está suficientemente próxima para que o Hubble consiga distinguir um grupo de estrelas variáveis chamadas cefeides que existem na nossa própria galáxia e cujas propriedades permitem saber a distância a que se encontram. Os cientistas puderam assim proceder às etapas necessárias para determinar as dimensões do Universo: (1) A partir de observações das cefeides na Via Láctea estabelecer a relação entre as suas propriedades e a distância, (2) usar as observações de cefeides na NGC 1309 para determinar a distância da Terra à NGC 1309, (3) Aproveitar a ocorrência da supernova na NGC 1309 para determinar qual o brilho real deste tipo de supernovas, (4) usar supernovas de tipo Ia que ocorrem em galáxias muito mais distantes para determinar a distância a essas galáxias. Note-se que todos estes passos estão encadeados, e que cada uma destas supernovas de tipo Ia que ocorre perto de nós permite-nos melhorar a precisão com que podemos medir a distância aos objectos mais distantes no Universo.

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