terça-feira, abril 03, 2007

Um favo no Pólo Norte

Estas são imagens de Saturno obtidas pelos intrumentos da Cassini, a 21 de Junho de 2004, com filtros que deixam passar luz em três intervalos de comprimentos de onda distintos, todos na banda do infravermelho. Estas imagens mostram bem que consoante a zona do espectro luminoso que se observa o aspecto de Saturno é muito diferente. Na imagem obtida a 1.3 micrómetros (milésimos de milímetro) quer Saturno, quer os seus aneis reflectem a luz de forma intensa. A 2.4 micrómetros, os anéis continuam a ser fortemente reflectores mas o metano na atmosfera de Saturno absorve quase toda a luz neste comprimento de onda. Ora há uma diferença óbvia entre estes comprimentos de onda e o seguinte, os 5.1 micrómetros. Reparem que nos outros dois se veêm efeitos de sombra devidos à fonte de energia luminosa, neste caso o Sol. A 5.1 micrómetros a fonte de radiação é o próprio Saturno, ou mais exactamente o brilho térmico proveniente do seu interior. Aqui observa-se um pouco inverso do que se via a 2.4 micrómetros. A 5.1 micrómetros os anéis, compostos por gelo, absorvem a radiação e são escuros, enquanto Saturno é muito brilhante, com uma luminosidade que depende dos padrões de nuvens na sua atmosfera. Os 5.1 micrómetros são assim particularmente adequados quando se querem observar coisas em zonas, como o pólo norte de Saturno, que se encontram à sombra do longo inverno saturniano. Os cientistas fizeram isso e observaram algo que se conhecia desde os tempos das Voyager no inínio dos anos 1980, mas não deixa de ser impressionante ver que ainda está lá. Esperava ver isto há já algum tempo e a Cassini não me desapontou: Saturno tem um hexágono quase perfeito no pólo norte. [... ler mais]

Antes de mostrar a imagem do pólo não resisto a mostrar o belíssimo panorama que se obtém quando se combinam as três imagens acima atribuindo a uma intensidade no vermelho, a outra no verde, e à outra no azul. As cores são falsas mas o efeito é deslumbrante:

Como eu referi, as Voyager tinham observado o pólo norte de Saturno, mas de uma perspectiva pouco favorável, de esguelha, e não em comprimentos de onda sensíveis ao brilho térmico do planeta. Vejamos então a primeira a capturar todo o pólo norte com uma perspectiva adequada, obtida em 2006, no dia 29 de Outubro. Ei-la, é de facto surpreendente:

A imagem foi processada para aumentar o contraste. O que estamos a ver é o brilho térmico do interior do planeta e a forma como é afectado pela camada de nuvens da atmosfera de Saturno. As nuvens mais profundas aparecem mais escuras na imagem pois bloqueiam a radiação neste comprimento de onda (5 micrómetros). O hexágono é por isso uma clareira nas nuvens de superfície, que se estende na atmosfera pelo menos 75 quilómetros abaixo das nuvens mais altas. As imagens obtidas ao longo de vários dias mostram que se trata de algo estacionário e com raízes profundas na atmosfera do planeta. Eu tinha falado anteriormente do olho tempestuoso de Saturno no pólo sul, mas esta coisa é ainda mais estranha.

Ficha técnica
Imagens e inspiração para o texto tiradas desta e desta páginas da NASA.

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